Características da Pesquisa
Acadêmica e Científica
Prof. Leopoldino (Leovine) Vieira
Neto, PhD.
A pesquisa acadêmica e científica constitui a base
fundamental da produção de conhecimento nas universidades e instituições de
investigação. Seu principal objetivo é compreender, explicar e transformar a
realidade, utilizando métodos sistemáticos, críticos e racionais que
permitam validar o conhecimento produzido. Embora os termos “pesquisa
acadêmica” e “pesquisa científica” sejam frequentemente usados como sinônimos,
é possível diferenciá-los em função de seus propósitos e contextos. A pesquisa acadêmica
tem caráter formativo e educativo, voltado à aprendizagem e ao desenvolvimento
intelectual do pesquisador. Já a pesquisa científica tem como foco
principal a geração de novos conhecimentos, a inovação e a aplicação prática de
resultados validados metodologicamente.
1. Sistematicidade e Método
Uma das principais características da pesquisa
acadêmica e científica é a sistematicidade, ou seja, a organização
lógica e ordenada de procedimentos que orientam todas as etapas do trabalho. A
pesquisa não ocorre de forma improvisada ou aleatória: ela segue um método
científico, que pode ser experimental, dedutivo, indutivo,
hipotético-dedutivo, dialético, ou mesmo qualitativo-interpretativo, dependendo
da natureza do fenômeno estudado.
Por exemplo, em uma pesquisa científica sobre o efeito
de um novo fertilizante no crescimento de plantas de milho, o pesquisador
define hipóteses, controla variáveis, aplica o fertilizante a um grupo
experimental e compara com um grupo controle. Essa sistematicidade permite reprodutibilidade,
garantindo que outros pesquisadores possam repetir o experimento e verificar a
validade dos resultados.
No campo das ciências humanas, a sistematicidade
aparece de forma diferente, mas igualmente rigorosa. Um estudo acadêmico sobre
o impacto da música na aprendizagem de crianças com Transtorno do Espectro
Autista (TEA), por exemplo, requer definição de amostra, critérios de
inclusão e exclusão, instrumentos de coleta de dados (entrevistas, observações,
escalas de comportamento) e procedimentos de análise qualitativa ou
quantitativa.
2. Objetividade e Rigor
A objetividade é outro pilar da pesquisa
científica. O pesquisador deve buscar analisar os fenômenos com base em
evidências e dados verificáveis, evitando que opiniões, crenças pessoais ou
juízos de valor interfiram no processo. Essa postura crítica e imparcial é o
que diferencia o senso comum da ciência.
Nas ciências sociais aplicadas, por exemplo, ao
investigar “as causas do absenteísmo docente nas escolas públicas”, o
pesquisador deve coletar dados por meio de questionários, entrevistas e
registros institucionais, e não apenas com base em percepções subjetivas. A
objetividade se traduz também no uso de instrumentos padronizados, métodos
estatísticos e análises comparativas.
O rigor científico complementa essa
objetividade, exigindo coerência entre os objetivos, a metodologia e a
interpretação dos resultados. É o rigor que assegura a confiabilidade da
pesquisa, permitindo que o conhecimento produzido seja aceito pela comunidade
científica.
3. Fundamentação Teórica e
Revisão da Literatura
Toda pesquisa acadêmica ou científica precisa estar
ancorada em referenciais teóricos. A fundamentação teórica fornece o
suporte conceitual necessário para compreender o fenômeno estudado e situar o
trabalho no contexto das investigações já realizadas.
A revisão da literatura cumpre, portanto, um
papel essencial: identificar o que já foi pesquisado, quais lacunas ainda
existem e quais abordagens teóricas podem orientar a nova pesquisa.
Por exemplo, em um estudo acadêmico sobre a
influência da gamificação na aprendizagem matemática no ensino médio, o
pesquisador deve revisar autores que discutem teorias de aprendizagem (como
Piaget, Vygotsky ou Ausubel), metodologias ativas e tecnologias
educacionais. Essa base teórica garante que o novo estudo não parta do
zero, mas dialogue com o corpo de conhecimento já consolidado.
4. Originalidade e Inovação
Uma característica essencial da pesquisa científica
é a originalidade. Produzir conhecimento científico implica trazer algo
novo: uma nova abordagem metodológica, uma nova interpretação teórica, um novo
dado empírico ou uma nova aplicação prática.
A pesquisa acadêmica, mesmo quando tem caráter
formativo, deve buscar certa originalidade, seja no recorte do problema,
seja na interpretação dos resultados.
Por exemplo, uma dissertação de mestrado que
analise a percepção dos professores sobre o uso da inteligência artificial
na avaliação escolar pode ser original por abordar um tema emergente e
propor estratégias pedagógicas ainda pouco exploradas.
Na pesquisa científica propriamente dita, a
inovação pode estar no desenvolvimento de um novo algoritmo computacional,
de uma vacina, ou de um modelo de eficiência produtiva baseado em DEA
(Data Envelopment Analysis), metodologia muito usada em economia e
engenharia de produção.
5. Clareza e Precisão Linguística
A linguagem científica deve ser clara, precisa e
objetiva, evitando ambiguidades e termos vagos. A escrita acadêmica exige
coesão, coerência e terminologia adequada à área de conhecimento.
A clareza é fundamental para que outros
pesquisadores compreendam exatamente o que foi feito, como e por quê. Essa
característica está diretamente ligada à transparência do processo
científico, pois quanto mais preciso o relato metodológico, mais fácil será
reproduzir ou validar o estudo.
Um exemplo prático: um relatório de pesquisa em
psicologia que descreva o uso de um “teste de atenção” deve indicar qual instrumento
foi aplicado (por exemplo, Teste de Atenção Concentrada - AC), a população
estudada, os procedimentos de aplicação e a forma de análise dos resultados.
Isso garante precisão e credibilidade ao estudo.
6. Ética e Responsabilidade
Científica
Toda pesquisa deve respeitar princípios éticos,
especialmente quando envolve seres humanos, animais ou o meio ambiente. A ética
científica está relacionada à integridade do pesquisador, à honestidade na
coleta e análise de dados, ao respeito à autoria e à veracidade das informações
apresentadas.
Em pesquisas com seres humanos, como as que
envolvem entrevistas com professores ou pacientes, é obrigatório seguir
as normas do Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) e obter o Termo de Consentimento
Livre e Esclarecido (TCLE).
A plagiarismo, a falsificação de dados
e a omissão de resultados constituem graves violações éticas e
comprometem toda a credibilidade da pesquisa.
7. Publicidade e Comunicação dos
Resultados
Outra característica central da pesquisa científica
é sua publicidade. O conhecimento produzido deve ser divulgado à
comunidade acadêmica e à sociedade, por meio de artigos científicos,
dissertações, teses, livros, relatórios técnicos ou apresentações em congressos.
Essa comunicação permite o debate, a crítica e o
avanço do conhecimento. O processo de avaliação por pares (peer review)
é um dos principais mecanismos de validação científica, pois garante que o
trabalho seja analisado por outros especialistas da área antes de sua
publicação.
Por exemplo, uma pesquisa sobre o uso de
energias renováveis em indústrias do agronegócio pode ser publicada em
revistas especializadas como Renewable Energy ou Energy Economics,
ampliando o impacto social e econômico do estudo.
8. Cumulatividade e
Universalidade do Conhecimento
A ciência é um empreendimento cumulativo:
cada novo estudo se apoia em pesquisas anteriores e contribui para o avanço
coletivo do saber. O conhecimento científico é também universal, ou
seja, válido para qualquer contexto onde as mesmas condições sejam observadas.
Se um modelo matemático desenvolvido por
pesquisadores brasileiros para medir a eficiência de universidades públicas
com base na Análise Envoltória de Dados (DEA) for aplicado em instituições
norte-americanas e produzir resultados coerentes, isso demonstra a
universalidade da teoria.
9. Aplicabilidade e Impacto
Social
A pesquisa acadêmica e científica deve ter utilidade
prática ou teórica, contribuindo para o desenvolvimento da sociedade. A
aplicabilidade não significa, necessariamente, que o conhecimento tenha uso
imediato, mas que possa orientar políticas públicas, práticas educacionais,
inovações tecnológicas ou transformações culturais.
Um exemplo é a pesquisa acadêmica sobre inclusão
escolar de alunos com deficiência, que pode subsidiar políticas
educacionais, formação docente e práticas pedagógicas mais inclusivas. Da mesma
forma, pesquisas científicas na área médica, como o desenvolvimento de novas
terapias genéticas, têm impacto direto na qualidade de vida da população.
Conclusão
Em síntese, a pesquisa acadêmica e científica
caracteriza-se por ser sistemática, objetiva, fundamentada teoricamente,
original, ética e comunicável. Seu propósito é produzir conhecimento
válido, confiável e socialmente relevante, que possa ser criticado,
aprimorado e aplicado.
Seja na universidade, em laboratórios ou em centros
de inovação, a pesquisa é o caminho que a humanidade encontrou para transformar
a curiosidade em conhecimento, e o conhecimento em progresso.
Assim, toda pesquisa seja uma tese sobre
epistemologia da educação, um artigo sobre modelagem econômica ou um
experimento biotecnológico compartilha o mesmo ideal: buscar a verdade com
método, razão e responsabilidade social.